quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Desportos de Natureza? / 04-12-2022

Em princípio, é de saudar que mais e mais pessoas procurem de alguma forma o contacto com a Natureza e em concreto a prática de desportos chamados “de Natureza”.

E temos tantos caminhos, trilhos, recantos de enorme interesse e valor patrimonial, ecológico, cultural, etc.

Há alguns desportos que pelas suas características acabam por propiciar de forma mais directa esse contacto.

O BTT, o “Trailling” (não sei se é assim que se escreve ao certo), a Orientação, etc.

O grande senão, naquilo que para mim constitui um tremendo paradoxo, é ser confrontado com a falta de civismo e consciência ecológica daqueles que supostamente procuram a Natureza para dela usufruir.

Parece-me um tremendo paradoxo, para não dizer pior, que por exemplo quem procura a Natureza deixe resíduos nela.

Parece-me ainda mais paradoxal, para não dizer estúpido, a “modinha” das provas de BTT, e “trailling” em que “sinalizam” o percurso com fitinhas plásticas coloridas mas, terminada a prova, não há qualquer cuidado, inteligência ou simples bom-senso para as recolher.

Ou seja, disfrutaram da Natureza, fizeram a sua prova e no final como prémio para a Natureza deixam uma generosa oferenda de plástico.

Neste caso, nesta foto, deparei-me com estas fitas quando percorri um pouco do Trilho PR1 SMF - Rio Uíma - Caldas de S. Jorge, como o nome indica em Sta Maria da Feira.

Outro dado curioso é esta prova, seja ela qual tiver sido, ter contado com o apoio, talvez patrocínio, da própria Câmara Municipal de Sta Maria da Feira.

Não seria também do mais elementar cuidado que a própria autarquia exigisse à organização a remoção das fitas plásticas após a realização da prova? A mim parece óbvio que sim.

Enfim, infelizmente é um exemplo que está longe de ser uma excepção à regra e infelizmente aqueles que supostamente seriam em teoria mais sensíveis à protecção da Natureza são os primeiros a encabeçar a lista de “broncos” que atentam contra ela. Em Portugal então os índices de “literacia ambiental” são tão elevados como a inteligência destes pseudo-amantes da Natureza.

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segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Transitando2022 ou 108 Ideias fundamentais para um nova sociedade: Partilha 9, ECOLOGIA das EPIDEMIAS, 2022-10


ECOLOGIA das EPIDEMIAS

As ditas epidemias são uma realidade paralela à própria história da civilização. Na verdade estão muito longe de constituir um fenómeno exclusivo só da espécie humana. Do ponto de vista ecológico e tão “duro” como possa soar a verdade é que funcionam também como um mecanismo de regulação das espécies. Ou seja, entre outros, constituem um mecanismo de controlo populacional quando uma determinada espécie ultrapassa o número de indivíduos ecológicamente sustentável ou simplesmente viável.

Ao longo da história tem sido na verdade um dos principais “mecanismos” de regulação populacional de origem, digamos, natural. Claro que existem outros … os próprios factores climáticos influem em larga medida quer de forma directa quer de forma indirecta por exemplo na forma como se repercutem na produção alimentar.

Existem também outros factores de origem humana como por exemplo as guerras.

Ao longo dos séculos com os avanços científicos, em particular na área da medicina, assim como devido à melhoria generalizada das condições de vida e higiene a magnitude e impacto das epidemias, pelo menos nos países ditos mais desenvolvidos, tem vindo a diminuir de forma bastante considerável.

Na verdade é precisamente nos países/locais onde as condições de vida/higiene são piores que se verificam ainda epidemias de proporções verdadeiramente dramáticas. Por vezes epidemias de doenças há já muito tempo erradicadas no chamado “1º mundo”.

Não obstante podemos afirmar de forma genérica que ao termos tido a capacidade de controlar a dimensão e impacto das epidemias suprimimos também uma mecanismo “natural” de regulação populacional.

Um dos aspectos que nos define como espécie é essa susceptibilidade de protegermos os “mais fracos”. Num processo de selecção natural os mais fortes prevalecem e os mais fracos são tendencialmente os primeiros a ser eliminados por exemplo numa situação de epidemia.

Dito isto podemos pois afirmar que faz parte da nossa consciência enquanto espécie zelarmos pelos “mais fracos”. Claro que em muitos contextos não é isso que acontece. No sistema capitalista global os mais fracos acabam muitas vezes, por exemplo, por ser segregados do ponto de vista social e económico. Mesmo que em muitos casos não seja uma “eliminação” física (por vezes acaba também por ser) é uma eliminação das condições e direitos mínimos de subsistência económica. Ou seja, o poder económico acaba por ser um mecanismo de selecção aplicado pelo sistema económico e cultural capitalista. Obviamente é um mecanismos completamente “deturpado” dado que não favorece exactamente o “mais forte” mas sim aquele que possui condições mais favoráveis.

Voltando à questão das epidemias “naturais” … evidentemente que está fora de questão optar por deixar as epidemias produzir o seu efeito “natural” … mas a grande questão que surge é então … que mecanismos persistem então de controlo populacional?

Bem … nas sociedades onde existem maiores níveis de educação e também maior qualidade de vida, mais bem-estar em termos de indicadores socio-económicos, as pessoas tendem a ter uma quantidade mais reduzida, limitada de filhos. Em geral é na verdade nas sociedades onde existe maior pobreza e também menores índices educativos que os casais tendem a ter e a querer ter maior número de filhos. Muitas vezes numa perspectiva dos filhos como “mão-de-obra” e sustento para a própria família.

Nessa perspectiva parece-me que a o foco principal deveria ser o de permitir e contribuir para que os países ditos sub-desenvolvidos possuam melhores condições para proporcionar um maior bem-estar aos seus cidadãos. Na prática vezes sem conta acontece o oposto... os países ditos “sub-desenvolvidos” encontram-se asfixiados por mecanismos de dependência e controlo económico relativamente aos países mais ricos. Muitas vezes uma parte muito substancial da riqueza gerada pela sua economia destina-se a pagar juros de dívidas cujos termos podem ser muito obscuros.

Em suma, não pretendo efectuar uma apologia a deixar as epidemias propagar-se como mecanismo de controlo populacional, natural e útil no sentido de estabelecer o equilíbrio dos sistemas ecológicos. É somente a questão/chamada de atenção para termos noção de que esse mecanismo é “relativamente natural”, daí tentarmos relativizar-lo um pouco e, por outro lado, ter presente que é importante desenvolver estratégias que possam contribuir para um equilíbrio populacional. Estratégias que e meu ver passam sem dúvida por mecanismos mais coerentes e desenvolvidos de solidariedade internacional … o que se torna especialmente complicado no actual contexto considerando que vivemos no sistema em que vivemos e onde os interesses instalados radicam o seu poder na exploração e até espoliação dos outros povos e nações. Daí que surjam também amiúde teorias algo horripilantes de apologia (como sendo algo de positivo) por exemplo às catástrofes naturais e a outros fenómenos (como as próprias epidemias) com impacto na redução da população.

Um aspecto que creio da maior importância no que diz à “Ecologia das Epidemias” prende-se, de uma forma mais global, com o nosso próprio estilo de vida. A verdade é que tendencialmente a industrialização e a concentração da população em grandes aglomerados populacionais, nas grandes cidades, tem-se traduzido também numa perda generalizada de qualidade de vida e em estilos de vida que se podem considerar menos saudáveis. Dessa forma pode-se dizer que se tem traduzido também, de uma forma geral, na criação de condições mais propícias ao surgimento de epidemias e ao impacto destas ser potencialmente maior. Creio que se há um padrão que pode ser claramente identificado é o de as epidemias atingirem predominantemente os grandes centros urbanos onde as condições de vida, desde logo por um menor contacto com o meio natural, são habitualmente piores. Por outro lado a realidade é que uma concentração elevada ou, se quisermos até, excessiva tende a contribuir para aumentar em larga medida as probabilidades de contágio.

Claro que este é um aspecto muito complexo porque também podemos discutir o conceito de cidade que temos ou não. A realidade é que o próprio conceito de cidade que temos pode ser profundamente alterado e acrescentaria … melhorado.

Melhorar por exemplo para um conceito com menor densidade de construção e um maior equilíbrio entre espaço impermeabilizado/artificializado e espaços verdes por exemplo … nomeadamente espaços produtivos como hortas urbanas.

As cidades podem (e devem) ser sem qualquer dúvida habitats mais “naturalizados”.



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quarta-feira, 11 de maio de 2022

"Transitando2022 ou 108 Ideias fundamentais para um nova sociedade”, Partilha 8, AUTO-PRODUÇÃO, 2022-05

 

Do meu ponto de vista, um aspecto que se encontra de alguma forma associado à questão da economia circular é o da auto-produção. Se é fundamental repensar em todo o processo produtivo nomeadamente em termos de inteligência na utilização e reaproveitamento de recursos, acrescentaria que é possível ir ainda mais longe e até diminuir os níveis de produção industrial. Um ponto crucial é efectivamente o da redução dos níveis de produção e consumo mas, para além disso, parece-me que é fundamental reduzir a dependência em relação ao sistema produtivo industrial. Dito por outras palavras … há toda uma infinidade de produtos/bens que podem ser produzidos de forma caseira … A aceleração dos processos de industrialização veio limitar fortemente esse género de práticas e conhecimentos de auto-produção. A auto-produção acabava por ser extremamente natural e comum. Fosse por razões de ordem geográfica (de algum isolamento), fosse por razões de ordem económica (pouco poder económico para aquisição de produtos de produção industrial por assim dizer) ou fosse até porque razões de ordem “natural” … na medida em que auto-produzir esses bens/produtos era simplesmente aquilo que seria mais natural … ou também porque simplesmente não existia ainda a produção industrial desses bens.

Claro que provavelmente será utópico conceber um retorno a essa realidade … no entanto em muitos casos estou convicto de que é possível recuperar, voltar a dinamizar e até apoiar esse género de dinâmicas de auto-produção desde logo ao nível daquilo que é mais elementar: a produção agrícola. Também é importante referir que principalmente as grandes empresas que controlam o aparelho produtivo tendem a ver essa auto-produção como uma ameaça ao seu poder: quanto menos as pessoas consumirem e necessitarem dos seus produtos menor será naturalmente o seu lucro … pelo que há que recorrer a todos os recursos possíveis para manter as pessoas dependentes das grandes empresas.

A nossa dependência face a esse aparelho produtivo industrial cresceu de uma forma incomensurável, ao ponto de hoje em dia já não nos sentirmos capacitados para produzir quase nada. Isso acaba por nos conduzir à questão da partilha: Quanto maior for a partilha desses conhecimentos e práticas auto-produtivas mais fácil será o acesso às mesmas assim como a adopção das mesmas… e quanto mais pessoas estiverem activamente envolvidas nesse processo maiores serão as possibilidades de sucesso dessas iniciativas, sobretudo pela vertente da experimentação e da dinâmica de troca de conhecimento(s).

Claro que isso também nos conduz à questão das “manualidades” … a verdade é que de uma forma geral o próprio sistema de ensino é também muito pouco orientado para o desenvolvimento desse género de conhecimentos manuais por assim dizer. Suponho que isso se prende com uma tendência para privilegiar o conhecimento dito científico ou académico convencional e muito pouco outros género de conhecimentos que a certos níveis poderíamos classificar como mais informais.

No entanto, o artesanato constituí naturalmente uma dimensão fundamental da nossa identidade e cultura pelo que deveria ser apoiado de forma mais determinada e efectiva.

Mas para além disso possui um valor prático que poderá colmatar falhas e limitações inerentes ao processo industrial … desde logo a escala de produção … isto porque ao nível de muitos produtos a verdade é que a produção é claramente excessiva...

Isto não significa que todos nos tornemos artesãos mas tão somente que talvez exista no actual contexto uma oportunidade muito importante de mudança aos mais variados níveis e esta poderá ser precisamente uma delas.

Na verdade, como já foi referido em diversos pontos anteriores, nomeadamente naqueles relativos à REVITALIZAÇÃO da “ECONOMIA REAL” e da REVITALIZAÇÃO do SECTOR PRIMÁRIO, tendo a acreditar que está a acontecer uma certa falência do processo industrial convencional … para além da excessiva “tercealização” da sociedade … pelo que há importantes ajustamentos que terão que acontecer a esse nível … e esse, o da absoluta urgência de voltar a ter efectivamente um sector primário forte e produtivo é um dos que me parecem mais inequívocos. Em especial se nos estivermos a referir à produção alimentar.

Mas ao referir-me a auto-produção nem estou tanto a referir-me necessariamente à revitalização de ofícios tradicionais mas até mais a muitas práticas e conhecimento possíveis de desenvolver a nível doméstico. Na verdade há já muitas pessoas que o fazem e a certos níveis pode-se quase falar até de uma espécie de “movimento” … Os exemplos são muitos e variados pelo que não tenho aqui a pretensão a proceder a uma listagem exaustiva dos mesmos … mas um dos mais relevantes é precisamente aquele que se prende com a criação e desenvolvimento de hortas urbanas.


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domingo, 20 de março de 2022

Equinócio de Primavera / 2022-03-20


A Primavera é a estação em que a Natureza volta a “despertar” após o longo período invernal. É a estação da exuberância da vida, das cores, dos cheiros.

É tempo de também nós deixarmos “brotar” o que de melhor existe em nós … expressarmos a nossa criatividade, poder, energia nas diversas áreas/dimensões da nossa vida. É um tempo especialmente propício para nos deixarmos guiar pela força e energia da Terra e também por escutarmos, observarmos e aprendermos com a sua sabedoria e essência ancestral.

É também mais uma vez a oportunidade de olharmos para nossas raízes para que possamos perceber quem somos, quem queremos ser e em que sentido queremos ir.

A nossa sociedade perdeu em larga medida a sabedoria do contacto com a Terra e deixou de seguir o ritmo e cadência divina das estações.

O desafio maior é o de recuperarmos esses conhecimentos e tradições.

Que possas florescer com vigor, naturalidade e beleza nesta Primavera!


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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

“COVID-19: A MELHOR CALAMIDADE que NOS PODERIA TER ACONTECIDO?” Partilha 7, BIOCENTRISMO, 2022-02

 

O principal objectivo do livro COVID-19: A MELHOR CALAMIDADE que NOS PODERIA TER ACONTECIDO? é o de “oferecer” o seu contributo para uma reflexão individual e colectiva que, acredito convictamente, poderia e deveria estar a ser efectuada.

A certos níveis creio que ela está já a acontecer mas a outros parece-me que existe uma pressão excessiva para que se tente simplesmente regressar “ao normal”, ou o mais próximo disso que conseguirmos, quase como se nada se tivesse passado … ou não houvesse nada a aprender e sobretudo … a mudar.

O livro está distribuído por áreas temáticas que têm por objectivo incidir sobre aspectos e questões que toda a situação da Pandemia do COVID-19 e crise subsequente poderá ter tido, eventualmente, o efeito de tornar ainda mais evidente. Uma reflexão fundamental no sentido de perceber potenciais linhas de mudança.

Se tiveres alguma sugestão ou ideia de alguma forma em que possas colaborar/ajudar na publicação deste projecto fico-te desde já muito grato. Abraços

Pedro Jorge Pereira

E aqui segue mais uma “partilha”:


COVID-19: A MELHOR CALAMIDADE que NOS PODERIA TER ACONTECIDO?”

Partilha 7, BIOCENTRISMO, 2022-02

 

BIOCENTRISMO

Intimamente associado a uma nova ética/paradigma encontra-se a forma como nós, enquanto espécie humana, olhamos para as outras espécies e para o próprio planeta no seu todo. Cingindo a análise particularmente ao chamado “Mundo Ocidental” … que de alguma forma tem vindo a liderar o processo de globalização … podemos afirmar com um grau elevado de segurança que a matriz dominante tem sido essencialmente antropocêntrica. Dito por outras palavras e seguindo um pensamento profundamente associado aos paradigmas religiosos dominantes, a espécie humana coloca-se a si mesma no centro da vida no Planeta Terra e assume possuir perante essa uma considerável superioridade ética e moral. Essa superioridade como que legitima a forma como esta se relaciona e explora as outras espécies … como as subjuga e submete a um inarrável grau de sofrimento e de exploração. E pode-se ainda afirmar que o faz de uma forma “industrial”. Ou seja, creio que não é arriscado afirmar que essa postura antropocêntrica é uma das principais razões que explicam o elevado grau de destruição dos ecossistemas naturais. Nesse aspecto creio que essa mesma cultura “ocidental” teria imenso a aprender com as chamadas culturas indígenas. É muito frequente quando observamos a forma de estar e ser dessas tribos confrontarmos-nos com uma postura filosófica completamente diferente, no sentido em que é muito mais frequente observamos uma matriz filosófica predominantemente biocêntrica e não antropocêntrico. A espécie humana mesmo que possua uma superioridade prática em relação às outras espécies, mesmo que exerça um certo nível de exploração, efectivamente coloca-se ou percepciona-se numa posição muito mais humilde e de muito maior respeito relativamente às outras espécies e ao ecossistema no seu todo. Tende a percepcionar-se como um filho da Mãe Natureza e não como o seu amo e senhor. Tende a percepcionar as outras espécies como que “irmãos” e em várias situações ocorrem por exemplo importantes rituais de agradecimento ao animal “irmão” que é abatido para alimentar os membros da tribo. Há também uma postura de muito maior humildade no sentido de não retirar de natureza mais do que o estritamente necessário. O que representa uma realidade completamente diferente da postura exacerbadamente “extractivista” no mundo industrial … em que praticamente não se concebem limites àquilo que se pode e deve retirar da Natureza … particularmente numa perspectiva de gerar um lucro constante e mais uma vez também numa óptica moral do “ser humano” estar aqui para controlar e dominar o planeta. Do ser humano ser superior a todas as outras espécies.

Na minha humilde opinião estou convicto de que dificilmente podemos esperar um mundo efectivamente diferente enquanto essa postura antropocêntrica de alguma forma prevalecer.

Podemos até acreditar que em função de todo a evolução tecnológica das últimas décadas a espécie humana se tornou dona e senhora do planeta … se tornou capaz de controlar toda a vida no planeta. Mesmo sendo inegável que vivemos possivelmente uma época sem precedentes … nomeadamente no que concerne à capacidade do ser humano em utilizar soluções tecnológicas para suplantar por exemplo os próprios limites e factores naturais … a verdade é que é uma ilusão acreditar que este transcendeu por completo esses limites … desde logo o da mortalidade. Podemos ter uma esperança média de vida em geral superior à dos nossos avós, bastante superior até mas … nem por isso deixarmos de viver numa condição eminentemente frágil face por exemplo à nossa própria mortalidade.

Para além disso quando observamos a magnitude de uma catástrofe natural … de um sismo, de um furacão, de um “tsunami”, da erupção de um vulcão … é verdade que devido aos avanços tecnológcos provavelmente o nível de destruição causado por qualquer uma dessas catástrofes tende a ser menor … mas nem por isso menos … catastrófico em muitos casos.

É ainda importante salientar que é muito subjectivo falar dos avanços tecnológicos da nossa civilização quando o acesso a essa mesma tecnologia é ainda tão díspar …

Há milhões de seres no nosso planeta que não têm acesso a bens, nomeadamente meios tecnológicos, que para nós parece do mais elementar direito.

A verdade é que imersos que estamos na nossa própria realidade, torna-se difícil projectarmos-nos de forma a conseguirmos compreender minimamente a realidade dos outros. E a verdade é que tantas e tantas vezes estamos longe, muito longe, de conseguir imaginar e projectarmos-nos no sentido de perceber sequer minimamente o que é estar no lugar desses seres.

Dito de outra forma, creio que não estou a proferir nenhuma heresia se afirmar que a muitos níveis no essencial somos verdadeiramente privilegiados.

E voltando à questão das catástrofes naturais e se calhar não tão “naturais”, se considerarmos que factores antropogénicos influem cada vez mais (nomeadamente no contexto das alterações climáticas), também a esse nível os impactos são muito diferentes e tão mais “catastróficos” quanto menores forem as condições operacionais e logísticas, tecnológicas também, desses países para responder a um cenário de crise. Para além das enormes disparidades que podem verificar-se e verificam-se efectivamente tantas e tantas vezes dentro de um mesmo país.

Então a verdade é que, em larga medida, continuamos a estar longe de conseguir controlar muitos factores e acontecimentos de ordem natural. Uma constação que poderia servir no mínimo para questionarmos a validade moral do pensamento antropocêntrico.

Talvez as coisas estejam efectivamente a mudar e comece a haver uma procura por parte de alguns indivíduos e pequenos grupos da nossa sociedade por uma matriz e particularmente por estilos de vida que no essencial estão muito mais alinhados com uma forma de ser e pensar biocêntrica do que propriamente com o pensamento/padrão antropocêntrico dominante … e parece-me que esse caminho é sem sombra de dúvida o que faz cada vez mais sentido.


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quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Da automação da sociedade / 2022-01-19

 

Na nossa sociedade prevalece o mito da automação. O mito de que um dia todas as tarefas e trabalhos humanos irão ser executados por máquinas. Um dos argumentos mais utilizados para legitimar esse quase dogma é o da chamada libertação do Homem... o de que liberto que este esteja, pelas "máquinas", das tarefas laborais poderá então dedicar-se ao lazer. Parece-me que esse mito é isso mesmo: um mito! Uma maior automação da sociedade libertou de facto a espécie humana de algumas tarefas aborrecidas mas não trouxe a maior disponibilidade e tempo de lazer em família que anunciava... Muito menos tornou o sistema laboral mais justo e equilibrado. Melhor para a maior parte dos seres humanos. Por essas e por outras tenho muitas reservas e até resistência em relação à automação e por isso praticamente nunca vou para aquelas filas "self-service" do supermercado e várias vezes, quando abasteço a gasolina no carro, procuro um dos poucos postos onde o serviço é disponibilizado... por um ser humano. Neste caso as empresas de combustíveis nem sequer substituíram um posto de trabalho executado por um ser humano por uma máquina mas sim... pelos clientes... que passaram a ter que executar um serviço que era prestado por um trabalhador pago para esse efeito. Quem beneficiou? O cliente não foi certamente. 

Um dia todas as tarefas serão executadas por máquinas? Um dia as máquinas irão substituir completamente a humanidade? Por muito perfeitamente que executem as funções para as quais foram concebidas acredito que pelo menos num aspecto ficarão aquém: no de ser humanas. E com quem gostarias mais ter "dois dedos de conversa"... com uma máquina ou com um ser humano? Mesmo com os seus defeitos... e é também essa a diferença entre uma máquina e um ser humano... uma máquina praticamente não deixa margem para nos surpreendermos com quem vamos encontrar... é tudo calculado, previsível, algorítmico. É mesmo nesse mundo que queremos viver?

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domingo, 16 de janeiro de 2022

da solidão / 2022-01-15


 

da solidão / 2022-01-15


Diz-se que “somos todxs um”, que todos fazemos parte da mesma consciência universal. Talvez. Também “somos todxs um”. Uma consciência una, individual, particular. É essa particularidade, ou essas particularidades, que tornam esse processo dito vida tão … singular.

A vida faz-se também de muitas partidas. É um processo dinâmico … em constante movimento, por muito que muitas vezes entre a nossa capacidade de percepção desses movimentos e a velocidade a que eles ocorrem, exista um desfasamento considerável.

A vida é um processo de muitas partidas. Muitas partidas de tantos “eus” que vão ficando pelos caminhos que percorremos. Morremos e nascemos a cada instante.

É também um processo de muitas partidas “dos outros”. Partida de seres que compõem o nosso universo afectivo e referencial.

Partidas que nos enchem de um tremendo vazio muitas vezes. Um vazio que nos ensina o quanto de nós se preenchia desse “outro”.

Em primeira e última instância a vida ensina-nos, com maior ou menor dificuldade, de forma mais ou menos dolorosa, a estarmos “sós” …

Há diferença entre estarmos sós e estarmos sozinhos? Entre estarmos sós e estarmos em solidão?

Talvez só quando aprendemos a estar plenamente sós temos o coração aberto para poder estar com os outros … e no entanto … há aprendizagens da vida que levam .. .toda uma vida.

Até lá, vamos aprendendo, vamos tentando, vamos errando … vamos aprendendo vezes sem conta de forma bem inexorável.

Quanto tempo vai um ser ficar na nossa vida? E que importância irá ter para nós e para ele? E quanto o iremos amar e ser por eles amado? Verdadeiramente? O amor pode ser quantificado?

No final de contas … a vida é feita de dolorosas subtrações que nos ensinam que nunca possuímos verdadeiramente nada … e por isso mesmo cada dádiva, cada presença, cada ser que nos toca verdadeira e profundamente é um benção … que dura o que durar … e que olhar a eternidade é como olhar as nuvens no céu em constante devaneio.

Talvez não devéssemos temer estar sós … pelo contrário … talvez devéssemos aceitar essa visita dos tantos “eus” que nos compõem, ou não, com a mesma hospitalidade da visita dos que nos vêm tocar, abanar, fazer tremer … enquanto ficarem.

Há seres que nos deixam tremendos vazios sulcados no coração … talvez insubstituíveis na nossa efémera ilusão de eternidade …

E também eles são Mestre que nos relembram dessa lição … dessa lição de que nunca estarmos verdadeiramente sós … se soubermos estar verdadeiramente com nós próprios. Quando estamos verdadeiramente sós … como nós mesmos. E no vislumbre de alguma vez alcançarmos essa compreensão … estaremos prontos. Talvez. 

 

PJP  


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Sessão sobre Relacionamentos Amorosos Conscientes (Evento de Beneficiência), 6ªfeira, 09 de Fevereiro de 2024, 19h00

  CONTEXTO: Os relacionamentos amorosos são, sem dúvida, um dos contextos literalmente mais apaixonantes da nossa existência mas, ao mesmo...