quarta-feira, 27 de outubro de 2021

“COVID-19: A MELHOR CALAMIDADE que NOS PODERIA TER ACONTECIDO?” Partilha 6, MENOS é MAIS, 2021-10

 MENOS é MAIS

Possivelmente há muitas formas de o designar mas ainda na lógica dessa profunda e urgente redução da escala de consumo há uma espécie de “slogan” chave capaz de resumir de forma bastante certeira a ideia principal inerente a esse movimento por assim dizer: o “Menos é Mais” traduz de verdade a ideia chave daquilo que pode também ser referido como uma espécie de movimento que busca num certo minimalismo e um estilo de vida bastante diferente, ou até mesmo oposto àquilo que tem sido a ideologia dominante nas décadas mais recentes de “consumir desenfreadamente” … consumir quase como um desígnio económico associado ao crescimento económico mas que, de facto, não contempla praticamente nenhum dos impactos e consequências nefastas associadas e a esse mesno processo de produção e de consumo.

Então “menos” bens de consumo pode possibilitar paradoxalmente, ou não, uma melhor qualidade de vida já que não “desperdiçamos” tanto tempo, energia e recursos a acumular bens materiais e/ou serviços de utilidade no mínimo duvidosa, de utilidade questionável. Em muitos casos funcionam mais na verdade como um vício do que propriamente do que corresponderem a uma necessidade objectiva e concreta.

Mais uma vez a clássica dicotomia SER vs TER. Provavelmente se despendermos menos tempo, energia e recursos focados simplesmente no “TER”, no “COMPRAR” … provavelmente poderemos investir em áreas certamente bem mais relevantes da nossa vida … como simplesmente despender tempo de qualidade da nossa vida com aqueles que amamos … a fazer coisas simples e que ironicamente numa grande parte dos casos são … gratuitas … tais como brincar, jogar, falar, cantar, passear, etc. Actividades transversais à própria história da humanidade mas que têm vindo a ser substituídas, especialmente nas décadas mais recentes e particularmente no período correspondente ao “pós-guerra” (II Grande Guerra Mundial) pelo entretenimento individualizado como por exemplo os vídeo-jogos, os canais não generalistas, e netflix, etc.

A ideia de que temos que estar sempre a “fazer” alguma coisa assenta claro num conceito profundamente “produtivista” … da produção (nomeadamente a produção constante e até crescente) como um pilar ideológico da nossa organização social e económica. Temos que estar sempre a produzir logo temos que estar também constantemente a consumir … naquilo que constitui a ideia já anteriormente mencionada do consumo como filosofia de vida. Como prática normativa e até conduta ideológica.

O “Menos é Mais” surge evidentemente em oposição a esta filosofia ainda bastante dominante mas também cada vez mais questionada. Ao mesmo tempo que evidencia a vários níveis ter falhado naquilo que é supostamente o seu maior propósito: o de gerar um bem-estar generalizado. Na verdade ela baseia-se num pressuposto de constante insatisfação … numa satisfação quimérica que deverá advir através do consumo mas que na verdade só conduz a uma espiral de constante consumo e de constante dependência em relação ao mesmo como elemento integrativo. No essencial não é, nada mais, nada menos, do que uma dependência semelhante a tantas outras .

O “menos é mais” pode ser visto como uma estratégia válida de eliminar ou pelo menos reduzir drasticamente essa dependência que se tornou num elemento cultural fulcral nas últimas décadas …

Então aquilo que poderia ser visto como um esforço por vezes quase ascético gerador de infelicidade (na medida em que se transmite uma ideia de sacrifício e privação) é provavelmente precisamente o oposto: É um esforço que nos permite encontrar uma libertação daquilo que é redundante e que constitui vezes sem conta em boa verdade uma espécie de vício e dependência.

Claro que é importante salientar que nos estamos a focar numa realidade geográfica onde efectivamente existe essa constante hiperbolização, por assim dizer, do processo de consumo. Nomeadamente naquilo que normalmente se define como os países “desenvolvidos” ou, essencialmente, os países ditos “ricos” do hemisfério norte. O que não pode ou não deve contudo servir para sonegar o facto de também nesses países existirem profundas e até violentas desigualdades sociais. Apesar de poderem à primeira vista parecer relativamente ténues se comparadas aos níveis de desigualdade “sistémica” e de pobreza extrema da maior parte do hemisfério sul.

De qualquer forma é importante salientar que não está em causa esperar que aqueles que já têm tão pouco tenham ainda menos. Mas na verdade estes têm muito a ensinar no que diz respeito a saberem viver tantas e tantas vezes relativamente bem com pouco … e a conseguirem encontrar a felicidade em “coisas” e valores provavelmente bem mais importantes do que possuir este ou aquele objectivo, este ou aquele produto, desta ou daquela marca.

Sem menosprezar contudo - é importante salientar bem - que existem em muitos países, demasiados ainda, níveis obscenos de pobreza e miséria... nesses casos o caminho deverá ser no sentido de prover essas pessoas e sociedades de bens dos quais se encontram tantas vezes privadas. Muitas vezes nem sequer porque não existe efectivamente disponibilidade desses bens e produtos mas fundamentalmente pelas profundas desigualdades, muitas vezes dentro do próprio país, de acesso aos mesmos. São tipicamente países onde existe uma minoria que chega até a viver em circunstâncias de absurda opulência ao mesmo tempo que a grande maioria da população vive numa situação que podemos mesmo definir como de segregação económica pura e dura.

Nesse caso menos, bem menos, para os que têm demais seria uma forma de proporcionar aos que têm efectivamente menos muito mais. Porventura o essencial para uma vida condigna. Mas claro, aí já nos estamos a focar em mudanças que têm necessariamente que ser de ordem sistémica. E leva-nos à questão de como mudar todo um sistema de organização económica e social que tem sido vigente nas últimas décadas? Bem, certamente não existe uma só solução e nem uma só resposta mas creio que por exemplo o “menos é mais” pode constituir uma alternativa válida e uma forma de criar um disrupção importante com o sistema capitalista global. Pelo menos uma boa filosofia no sentido de diminuir a dependência relativamente ao mesmo e de evitar, de alguma forma, contribuir para a sua perpetuação.

 

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Ah!!! mas (não) são verdes! /15-10-2021

 

Podem os chamados espaços verdes ser na verdade mais um problema ecológico e não uma solução? Por muito paradoxal que a resposta possa ser... sim podem... e em muitos casos até são. Tudo depende da visão, concepção e mesmo gestão desse espaço verde... sobretudo dos paradigmas dominantes. Não sei bem as razões históricas e culturais para isso (suponho que radica em larga medida numa visão antropocêntrica da espécie humana como "domadora" e dominadora de uma Natureza rebelde) mas para muitas pessoas e entidades, nomeadamente autarquias, um espaço verde "cuidado" é um espaço todo "arranjadinho", com a relva rasa, praticamente sem vegetação espontânea que é vista como um inimigo a exterminar sem piedade. E é aqui que começa o problema, ou problemas, ecológicos... Normalmente nesses espaços são usadas quantidades obscenas de herbicidas e de outros produtos químicos de síntese. Acresce que devido, desde logo, a uma maior exposição solar e muito menor capacidade de retenção de água o consumo da mesma tende a ser muito superior. Para além disso são espaços que tendem a ser muito mais pobres em termos de biodiversidade, já que a vegetação espontânea é normalmente um elo e elemento de elevada importância no equilíbrio de um ecossistema. Por tudo isso e muito mais urge uma profunda mudança de mentalidades na forma de olhar e conceber um "espaço verde". Felizmente nalguns locais essa mudança começa a acontecer e um bom exemplo disso é o do Parque da Devesa em Famalicão. Creio que também o Parque de Avioso no município da Maia. Também o município de Lousada está, ao que sei, a adoptar uma paradigma de manutenção de espaços verdes "inovadora" ao permitir a existência de áreas onde a vegetação pode despontar "livremente" sem correr o risco de ser literalmente arrasada ao primeiro despontar. Assisti a um documentário no “Biosfera” sobre isso mas já não consegui encontrar o episódio. Ainda há por certo um longo caminho a trilhar mas no que à Natureza diz respeito e em particular em relação à Biodiversidade a verdade é que tempo é em certa medida um "luxo" que vai diminuindo a uma velocidade vertiginosa... o ritmo de perda da Biodiversidade e de destruição dos ecossistemas (ou simplesmente profunda alteração e desequilíbrio nos mesmos) é muito superior ao de alguma regeneração ecológica que se vai desenvolvendo sobretudo através de projectos com uma visão e dinâmica efectivamente regenerativa. Por vezes tudo o que a Natureza nos pede para fazer é... nada. Deixá-la simplesmente despontar livremente... ou pelo menos reduzirmos a intervenção e ação sobre a mesma. Haja inteligência e visão para compreender o que fazer em cada situação e em cada momento. Fica o repto.


Sobre a boa política do Parque da Devesa em Famalicão:

https://vilanovaonline.pt/2021/07/16/parque-da-devesa-protege-biodiversidade-deixando-crescer-vegetacao/


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Sessão sobre Relacionamentos Amorosos Conscientes (Evento de Beneficiência), 6ªfeira, 09 de Fevereiro de 2024, 19h00

  CONTEXTO: Os relacionamentos amorosos são, sem dúvida, um dos contextos literalmente mais apaixonantes da nossa existência mas, ao mesmo...