sexta-feira, 3 de novembro de 2017

“Destralhando” a sua vida - por Pedro Jorge Pereira – Desenvolvimento Integral


"A felicidade não depende do que nos falta, mas do bom uso que fazemos do que temos." Thomas Handy

Vivemos numa sociedade de consumo onde, como a própria designação indica, somos constantemente incentivados a consumir. Uma actividade que, diga-se, não tem o propósito - numa grande parte das situações - de satisfazer alguma necessidade concreta mas sim unicamente a finalidade de … consumir. Assim sendo coloca-se a questão: porque é que a sensação de “vazio” existencial é tão comum numa sociedade que consome de uma forma tão desenfreada?
Por outras palavras, se o consumo é de facto a chave para a felicidade porque é que, por exemplo, a utilização de anti-depressivos, calmantes e medicamentos análogos é tão elevada nas designadas sociedades industrializadas? A resposta, como em tantas outras circunstâncias, reside na própria questão: o vazio existencial e o sentimento de depressão, frustração, etc. são tão frequentes na sociedade de consumo porque, evidentemente, o consumo está muito longe de proporcionar, por si mesmo, uma felicidade verdadeira e sustentada.

Todos nós precisamos de usufruir de um determinado conjunto de bens e serviços de forma a podermos assegurar, primeiro, a própria existência e, depois, um considerável nível de conforto.
As possibilidades de aprofundarmos o processo de auto-conhecimento e desenvolvimento espiritual podem tender a diminuir se as nossas prioridades forem encontrar formas de simplesmente sobreviver. Sem prejuízo de haver diversos exemplos de indivíduos e movimentos que procuram na frugalidade - e até no próprio ascetismo - uma forma de evolução espiritual. É uma opção perfeitamente válida que, porventura, não funcionará de forma igual para todos.
Pessoalmente tendo a acreditar que não é necessário quase como que renunciarmos ao “mundo material” para que seja possível evoluir espiritualmente, ou até de tornarmos nesse o nosso principal foco existencial. O essencial da questão passará, a meu ver, por encontrar um equilíbrio entre ambas as dimensões.
Aquilo que acontece de forma bastante frequente na nossa sociedade é uma excessiva preponderância da dimensão “material”, levando a um estilo de vida que, apesar de poder proporcionar uma aparente e momentânea felicidade é, na realidade, bastante ilusório.

A satisfação que advém da aquisição de determinado produto, – vezes sem conta de algum produto não verdadeiramente necessário, – só dura alguns instantes…sendo, de forma quase imediata, substituída pelo “desejo” de aquisição de um novo produto.
Então o que acontece é darmos por nós num ciclo interminável de desejo – consumo. Um ciclo explorado e estimulado até à exaustão pela sociedade mercantil que nos rodeia através de mil e uma estratégias e instrumentos de marketing.
Acabamos por viver com esse propósito primordial de trabalhar para ganhar dinheiro. Viver para trabalhar, trabalhar para ganhar dinheiro, ganhar dinheiro para podermos adquirir mais e mais bens de consumo.

A noção do que é verdadeiramente importante e necessário perdeu-se entretanto algures nesse processo “viciado” e “viciante”. É talvez uma das dependências mais toleradas e até estimuladas na nossa sociedade: a dependência do próprio consumo, ou melhor dizer, do consumismo.
Um dos principais problemas é que essa febre consumista (para além de diversas consequências ao nível, por exemplo, do consumo exacerbado de recursos provindos da Natureza e outras formas de impacto ecológico: como a produção de resíduos diversos) acaba por nos distrair daquilo que é essencial: a própria vida.

Ao procurarmos a felicidade no acto do consumo, no consumo de objectos (ou serviços) – objectos muitas vezes meramente simbólicos e sinónimo de determinado estatuto, ou pseudo-estatuto, social – acabamos por não cultivar uma verdadeira e profunda felicidade que reside não necessariamente nos objectos mas sobretudo num sentimento de harmonia e paz interior em larga medida pouco dependente das circunstâncias externas.
No fundo é aquilo que se pode designar de uma tranquilidade perante os eventos e circunstâncias que sucedem na nossa vida, por muito problemáticas ou até “dramáticas” que elas por vezes possam ser. Ou seja, a nossa atitude perante as adversidades é que determina em larga medida esse sentimento de “paz” e felicidade mais profunda.
E, por outro lado, o “consumo” pode ser efectivamente um meio para nos sentirmos bem, ou ajudar a isso, mas nunca o fim único da nossa existência.
No essencial pode-se talvez afirmar que a felicidade reside muito mais em cultivar a gratidão por todas as pequenas e grandes dádivas do dia-a-dia, em valorizar as relações afectivas, do que na aquisição de determinados objectos. Mas será que são essas as nossas prioridades e objectivos de vida?

Outro dos aspectos sobre o qual gostaria de reflectir prende-se com o ciclo de aquisição – acumulação. A acumulação é uma realidade que observo de forma muito frequente.
A meu ver é também um fenómeno bastante nefasto e que obsta à nossa própria evolução. Na verdade ela também é alimentada por pensamentos ilusórios. A “acumulação” radica, entre outros aspectos, na incapacidade (que pode e deve ser “trabalhada”) de nos libertarmos das coisas que já não precisamos e de que provavelmente já não viremos a precisar.
A questão é que, para além do aspecto prático e físico do espaço que essas “tralhas” ocupam, há também uma outra dimensão - mais “filosófica” ou “espiritual”, se quisermos - de um espaço da nossa vida que continua ocupado com objectos, emoções, esquemas que são completamente redundantes e a sua não “libertação”, obsta a que “libertemos” espaço para coisas novas poderem “surgir” na nossa vida. A energia da estagnação é, evidentemente, contrária à do movimento e a acumulação de “tralhas” gera mais estagnação.

Por outro lado existe o medo de que algo possa vir ainda a ser necessário … isto porque não confiamos que, nessa altura, a nossa vida reunirá as condições necessárias para providenciar daquilo que for realmente essencial.
É evidente que, pontualmente, há determinadas coisas que podem efectivamente vir a ser úteis em determinado momento da nossa vida. Mas a questão é a diferença entre pontualmente e sistematicamente. A diferença é entre pontualmente guardarmos determinadas coisas porque há efectivamente uma probabilidade considerável de virem a ser necessárias e entre sistematicamente guardarmos tudo ou quase tudo por partimos sempre do princípio que tudo ou quase tudo vai ser ainda necessário. Muitas vezes o resultado disso é a acumulação de dezenas, centenas, milhares de objectos que, em boa verdade, nunca chegamos a usar. Numa grande parte das situações acabamos até por esquecer que eles existem…perdidos numa qualquer gaveta, armário, etc.
Quantas vezes olhamos para um objecto e perguntamos-nos: Há quanto tempo não uso isto? E se não usamos há, por exemplo, mais de um ano então não será porque efectivamente não precisamos verdadeiramente dele?

É pois fundamental cultivarmos a capacidade de regularmente nos irmos libertando das coisas. Desde coisas (objectos) propriamente ditas até “coisas” num sentido mais abstracto: situações, esquemas, vícios, etc. Um dos aspectos mais interessantes é o de cultivarmos uma atitude de “compaixão” para com aqueles que nos rodeiam…provavelmente há imensas coisas que para nós já não têm qualquer utilidade mas para outros podem ser ainda bastante úteis. Em muitas situações, felizmente, já temos aquilo que é verdadeiramente essencial e então podemos (e, diria, devemos) doar parte do que temos com outras pessoas mais “necessitadas”.
O sentimento que daí advém é tão ou mais gratificante do que o próprio sentimento de adquirir ou receber determinado bem.
Termino salientando que uma das formas mais inteligentes de não acumular é, antes de adquirir algo, questionarmos-nos até que ponto necessitamos verdadeiramente desse objecto. Ou seja, descobrirmos a simplicidade da própria vida é também um hábito extremamente saudável e que, tendencialmente, nos permite caminhar rumo a uma maior sensação de verdadeira felicidade.

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Com profunda gratidão: Pedro J. Pereira.
Sugestões Ortográficas: Sofia Barradas


Pedro Jorge Pereira – DESENVOLVIMENTO INTEGRAL.
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