quarta-feira, 10 de novembro de 2021

(Já não)Apita o Comboio / 10-11-2021


Se me pedissem/se tivesse que escolher entre aquilo que foram as decisões mais desastrosas tomadas em Portugal no século transato e a forma como essas decisões se repercutem negativamente na nossa realidade actual teria por certo muita dificuldade em o fazer. Se o tivesse que fazer especificamente em relação à questão “ambiental”, apesar de ser, a meu ver, uma área profundamente interligada a tantas outras, para não dizer a todas outras, a dificuldade seria ainda maior. Desde a quase completa “aniquilação” da floresta autóctone com as plantações de monoculturas industriais (com destaque para o eucalipto), à “plantação” de mamarrachos um pouco por todo o lado com destaque da linha costeira (parece que se plantou tudo menos o que se devia: árvores autóctones), passando pela brutal “intensificação” da agricultura com destaque para o mais recente atentado ambiental que é o desastre das monoculturas no Parque Natural da Costa Vicentina … enfim, por certo o mais difícil é mesmo escolher entre as inúmeras opções disponíveis.

Ainda assim de entre todos um que me ocorre de forma quase instantânea foi/é a “Destruição Programada da nossa Rede Ferroviária”. Em vez de se ter feito o que se devia ter feito, que seria modernizar essa Rede, optou-se pura e simplesmente pelo encerramento criminoso de Linhas isolando ainda mais (principalmente) as populações periféricas. Contribuindo ainda mais para o chamado êxodo rural. Claro que chegados a este ponto o principal argumento que é quase sempre esgrimido na defesa dessa política é o de que … “Mas as Linhas não eram rentáveis, davam prejuízo”. E as auto-estradas são rentáveis para o estado? E os equipamentos públicos e as obras estruturantes têm que ser rentáveis ou são, ao invés disso, um investimento fundamental para o desenvolvimento das diversas localidades? Ou um investimento fundamental para assegurar o direitos das diferentes populações, mesmo as mais “isoladas”, ou sobretudo as mais isoladas, à mobilidade?

Já não falo do desastre ambiental relacionado com o aumento das emissões de gases poluentes já que as viagens que deixaram de poder ser feitas de comboio passaram a ser feitas de auto-carro (quando o há) ou automóvel.

Claro que a meu ver esse encerramento teve muito de criminoso e explica-se pelo lobbie do alcatrão ter imposto a sua “Lei” … a construção desenfreada de estradas e auto-estradas, mesmo em locais onde o nível de investimento (custo) era aí sim muito superior à real necessidade, prendeu-se no meu atender com o facto de terem sido um dos principais “manás” oferecidos às grandes construtoras. Que são em larga medida quem determina decisões e quem “manda” nos ministérios.

Quando olho para o mapa da Rede Ferroviária Nacional de há algumas décadas atrás não consiga deixar de sentir uma profunda tristeza e mesmo “dor de alma” … como foi possível destruir uma rede que cobria uma extensão tão importante do território? Como foi possível aos tecnocratas, aos boys, aos tachistas da capital decretarem criminosamente a morte “do comboio”? Foi possível porque normalmente para chegar a um desses cargos é necessário abdicar do coração e provavelmente também vender a alma … não ao diabo mas aos grandes lobbies e interesses que no fundo mandam no país.

E foi possível porque uma população cansada do seu isolamento, conformado ao fado do seu esquecimento por parte do poder central, foi permitindo … porque uns brindes oferecidos pelos candidatos nas épocas de eleições sempre são melhores que o nada do costume.

Como que choro de cada vez que vislumbro um mapa como este (não consigo determinar ao certo o ano mas foi certamente anterior à ditadura do Cavaquistão) … choro em silêncio e na contemplação de pensar como poderíamos ter um país tão melhor se as decisões fossem tomadas em prol das populações e não do grande capital. Noves fora é esse o resultado principal da equação.

(Já não) Apita o comboio … e como que ainda ouço o seu apitar quando passo por uma estação abandonada, e ouço o bulício das gentes da terra carregadas de sacos a sair das composições, e ouço o silêncio sussurrando-me lamentos … e vejo os fantasmas de quem já ninguém se lembra. E choro mais uma vez.


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