sexta-feira, 3 de setembro de 2021

pés para que te quero? / 02-09-202

 

Deslocações. A grande maioria de nós passa uma grande parte da sua vida deslocando-se de um local para o outro. Essas deslocações na grande maioria das vezes tendem a ser deslocações rotineiras... deslocações de casa para o local de trabalho ou de estudo. Habitualmente é-nos incutida a ideia de que uma deslocação deve ser o mais rápida possível... e essa é uma das principais razões para a frenética "automobilização" da nossa sociedade. Os carros, e as vias para eles circularem, ocuparam o nosso espaço físico, acústico e mesmo "mental". Cultural se quisermos. Dito de outra forma ... a noção de espaço encontra-se intimamente associada à noção de ... tempo. E o ritmo, a velocidade, que nos impomos, porque nos impõem, é sempre de cada vez maior vertigem ... cada vez mais rápido, mais rápido, mais rápido. A verdade é que ... tão focados que estamos no destino ... acabamos por passar ao lado (literalmente) de todos os detalhes ... dos detalhes, dos pormenores, dos segredos da nossa cidade, do espaço que percorremos ...

Segredos e lugares que nos contam estórias, que guardam silenciosas memórias de quem fomos ... segredos e lugares com os quais não paramos para dialogar. Não paramos para dialogar, para observar .... para sentir os odores, para escutar as formas, para compreender as energias ... E é esse diálogo que mais me encanta nas minhas deambulações a pé ou de bicicleta ... essa oportunidade de falar com os lugares ... de contemplar a sua solenidade, a sua sabia antiguidade, de perceber todas as memórias que os caminhos e os recantos guardam esquecidas ... Infelizmente quase sempre que tomo esses desvios, ou simplesmente contemplo os lugares mais habituais, deparo-me com abandono e esquecimento ... parece que nessa frenética corrida rumo a algo que ninguém sabe bem o quê acabamos por nos esquecer de tantas das nossas raízes, da nossa identidade e dos lugares que deixamos lá .... escondidos.

Infelizmente vivemos também num país que parece esculpido à imagem e semelhança do automóvel ... em que o peão, o ciclista é "atirado" literalmente para a berma. Ao percorrer uma parte do caminho de Santiago a partir do Porto segui uma grande parte do percurso na berma da estrada ... quase suplicando aos automóveis pela amabilidade de me concederem o favor de espaço para caminhar ... em locais sem qualquer passeio. Curioso e triste é também em todo o trajecto não ter encontrado uma só fonte. Parece que por cá é sempre melhor investir em placas pomposas que anunciam isto e aquilo mas no essencial pouco ou nada se investe ou melhora os locais.

Para além de tudo isso uma das coisas que mais me choca, sim, continua a chocar, é o lixo ... as generalizações são sempre algo perigosas mas ainda assim creio que não arrisco muito ao afirmar que somos efectivamente um país de badalhocos e badalhocas ... o lixo está por todo o lado ... resíduos a conspurcar a Natureza, ou o que resta dela. É algo que me chocou desde que me lembro de existir mas após algumas décadas gostava de acreditar que neste ponto as coisa estariam um pouco melhores ... e ao ser confrontado com a realidade fica difícil acreditar nisso .... tanto mas tanto que há a fazer para cuidar, valorizar, conhecer o nosso património histórico, natural e cultural ... mas sabemos mais do último grito da tecnologia, do novo telemóvel, ou da vida das personagens das revistas de fofocas, ou dos jogadores de futebol, do que das nossas raízes ... e uma árvore sem raízes fortes é uma árvore tísica, vulnerável, facilmente derrubada pelos ventos da moda. Bem, a partilha já vai longa e o meu principal objectivo era só recordar-me e recordar a quem as minhas palavras possam tocar que é tão importante colocarmos "pés a caminho", ou "pés nos caminhos" e conhecermos verdadeiramente o território, as geografias, as histórias, as gentes que ainda resistem... pôr pés a caminho agora ... pois cada dia que passa há menos histórias, há menos gentes, há menos memória ...


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