Cobiçar
os bens, qualidades ou regalias alheias não nos traz qualquer
vantagem, muito pelo contrário. A mesquinhez de espírito, que torna
insuportável o bem alheio aos nossos olhos, é algo que temos de
combater activamente pois constitui uma terrível fonte de mal-estar
e de infelicidade. Um pequeno conto ilustra o horror deste estado de
espírito.
Era
uma vez um jovem pastor de cabras que um dia encontra um diabinho dos
bosques. O diabinho diz-lhe que lhe vai conceder um desejo mas que o
que ele pedir será concedido ao vizinho a dobrar. “Pensa bem no
teu pedido que eu volto amanhã de manhã!” O pastor perde-se em
conjecturas: “Podia pedir uma casa … Não, senão o idiota do meu
viznho teria duas! Era melhor pedir para ser muito inteligente …
pois, mas o imbecil do meu vizinho seria sempre mais inteligente do
que eu! E se eu pedisse uma mulher bonita? Não, também não porque
ele, sem ter feito nada para o merecer, teria duas!”
O
pastor esquece-se de recolher as cabras, não pensa em comer e não
consegue pregar olho durante toda a noite, preocupado que está em
descobrir o que vai pedir.
No
dia seguinte, de manhã, o diabinho aparece. “Então, qual é o teu
desejo?” E o pastor, completamente exausto de tanto pensar,
responde:”Arranca-me um olho”.
Em
“A Alquimia da Dor – Conselhos Budistas para Transformar o
Sofrimento”; Paldron, Tsering; Pergaminho, 2004, p.121