Haverá
algo mais ambicioso do que pretender escrever sobre o Amor?
Sim,
o Amor, talvez um dos sentimentos (pode-se definir o Amor
simplesmente como um sentimento?) mais poderosos… ou talvez, “o”
sentimento mais poderoso que existe.
Por
Amor desenrolam-se dramas, aventuras, romances e, quase me atreveria
a dizer, é em torno dele que gira em larga medida a nossa existência
…
É
simplesmente avassaladora a forma como o Amor é susceptível de
“mexer” connosco
aos mais variados
níveis…
Mas
a principal questão que se coloca é:
será que quando
falamos de Amor estamos a falar verdadeiramente de Amor?
Há
certos aspectos em tudo aquilo que nos dizem sobre o Amor que me
“fazem pensar”…
Em
primeiro lugar acredito
que há uma diferença muito considerável entre Amor e paixão…
A
paixão é impulsiva (e muitas vezes explosiva) e pode
levar, de alguma forma, ao desenvolvimento de uma relação
amorosa…ou seja, creio que a paixão poderá
evoluir
para se tornar em algo mais profundo como…o Amor. Ou não…
Portanto,
muito mais do que
algo que se sente de forma intrínseca, o Amor é um processo que se
desenvolve …
algo
que
se alimentado
e cuidado poderá
conduzir, gradualmente, a esse sentimento tão profundo,
quase transcendente …
Ainda
assim confesso a minha tremenda impotência perante tão hérculea
tarefa como a de definir isso do que é o Amor …
Talvez
o mais fácil e lógico seja
definir o Amor
através da definição daquilo que, creio, não é o Amor.
Quando
algum dos elementos envolvidos numa relação dita amorosa sente que
deve terminar a relação porque é o que faz mais sentido para a sua
vida - ou seja porque outro motivo for - frequentemente a reacção
do outro elemento é de… ódio … ou seja, supostamente existe um
Amor enorme mas quando alguém decide que o melhor para si é o de
prosseguir o seu próprio caminho então esse dito Amor transforma-se
em ódio … A questão que se coloca é se a pessoa que agora odeia
a outra, alguma vez a terá amado verdadeiramente? Pode-se chamar
Amor a algo tão condicionado pela forma como a outra pessoa age ou
não em função daquilo que achamos que é melhor para nós…não
respeitando necessariamente aquilo que é melhor para ele/ela?
Ou
seja, parece
que só amamos a
outra pessoa se ela nos amar da forma que nós queremos e não
necessariamente da forma que é mais autêntica e verdadeira para ela
… isso é Amor verdadeiro?
Pessoalmente
tendo a acreditar que o conceito que mais se aproxima e interelaciona
com o Amor é
… o de Liberdade. Amor
é a liberdade de aprender, caminhar e viver numa parceria amorosa …
enquanto ambos/ambas quiserem muito, muito mesmo talvez … e uma
relação amorosa verdadeira e profunda tem necessariamente que
nascer de uma forte motivação para conhecer, aprender, estudar,
contemplar
@ outr@ … e aceitá-l@ em toda a sua autenticidade e essência …
se não formos capazes de amar aquilo que @ outr@ verdadeiramente é
então a questão que se coloca é se estaremos a amar
verdadeiramente @ @utro ou a amar aquilo que queremos que @ outr@
seja? Porque supostamente é aquilo que se coaduna melhor com as
nossas expectativas e desejos…
Resumindo
e concluindo … estou convicto de que existe uma enorme confusão
sobre
o conceito de Amor.
Posse, dependência, ciúme e até o ódio são, paradoxalmente,
habitualmente confundidos com o que é verdadeiramente o Amor. O que
é evidentemente um enorme equívoco e, diria até, um profundo
desconhecimento.
Mas
na verdade este artigo não era para ser necessariamente
de forma tão específica
sobre o Amor. Surgiu
da intenção de escrever mais
em concreto sobre a moda dos cadeados nas pontes (e não só).
Desde
há alguns anos para cá virou moda os casais de namorados colocarem
um cadeado, com os nomes de
ambos os
parceiros gravados, preso às grades de uma ponte. Suponho que a moda
terá começado, ou pelo menos será o local mais conhecido, em
Paris, numa das “românticas” pontes sobre o Sena.
O
simbolismo da ponte como algo que une duas margens é evidente,
e até tem “a sua piada” … o simbolismo do cadeado suponho,
que
também será
mais ou menos óbvio:
é o da união,
uma união
vitalícia,
eterna e
irreversível... já que, pelo que sei, faz também parte da tradição
atirar as chaves do cadeado ao rio.
Para
além do
óbvio
prejuízo
ambiental da questão, questiono-me:
mas porquê
atirar as chaves ao rio? Porque o Amor tem que ser visto como algo
vitalício? O Amor até pode ser … mas uma relação não tem que o
ser só …
“porque sim”.
Porque as pessoas casam-se e é suposto serem felizes para sempre.
Mas
isso não só não
acontece sempre como tantas e tantas vezes sucede precisamente o
oposto:
…
em prol da
“obrigatoriedade” de permanecerem junt@s …
porque têm um vínculo mais ou menos matrimonial,
…
a realidade
é que muitas
pessoas contribuem grandemente para se fazerem reciprocamente
infelizes …
A
vida é profundamente dinâmica e constantemente em mudança.
Enquanto
indivíduos experimentamos igualmente muitas mudanças ao longo da
vida. Então pode
acontecer que essas vivências,
descobertas, aprendizagens,
vicissitudes operem em
nós alterações de padrões
de pensamento, visões, valores, propósitos, etc.
E essas mudanças podem levar a um afastamento e
desfasamento / incompatibilidade
naquilo que são os
propósitos e valores de duas pessoas … e pode perfeitamente
acontecer, e acontece frequentemente, que uma pessoa esteja a
constituir mais um obstáculo naquilo que outra quer ser e fazer do
que propriamente o contrário.
Se,
após todas essas vicissitudes, ambas as pessoas se continuam a
sentir perfeitamente felizes junt@s,
óptimo. Se continua a existir um propósito mais amplo de
crescimento e aprendizagem, excelente. Mas se isso deixa de acontecer
então porquê persistir em prolongar algo que deixou a vários
níveis de “fazer sentido”?
O
cadeado, a meu ver, é um símbolo perfeito de algo que se quer
“petrificar”, aprisionar…algo contrário, portanto, à própria
essência do Amor e
até
da própria vida. Para
além de que sendo algo que representa um “aprisionamento” é
oposto, a meu
ver, à mais pura e profunda essência do Amor: a Liberdade.
Então
em vez da “modinha dos cadeados” talvez fosse
interessante os
namorados, os amantes, optarem
por
símbolos de união mais
criativos. E aproveito o balanço até para deixar uma sugestão:
porque não plantar uma árvore (ou muitas árvores) autóctones em
conjunto? Um dia, quem sabe, essa árvore irá crescer e ser um
bonito símbolo daquilo que foi ou é a união da vida de duas
pessoas.
E mesmo que essas
pessoas, por
alguma razão, não permaneçam juntas enquanto “casal” …
dessa relação terá resultado algo verdadeiramente útil e belo …
para a vida das pessoas (uma relação é sempre um contexto
extraordinário de potencial aprendizagem) e para a Natureza também.
Convém evitar, no caso de entretanto estarem envolvid@s
noutra relação, de fornecer a localização da árvore ao novo/ à
nova parceir@ … isto porque os ciúmes são lixados e porque as
árvores autóctones já têm inimigos
que chegue.
Claro
que os ciúmes, sendo um instinto algo básico, não deixa também de
ser algo que geralmente constitui um enorme obstáculo a uma relação
de profunda confiança e entrega. Ou seja, é normal sentirmos
ciúmes mas se permitimos que eles se manifestem ostensivamente a
tendência será a de ocuparem um espaço vital que,
numa relação saudável,
deveria propiciar outro género de aspectos, como a já referida
confiança e liberdade.
Em
relação à árvore plantada…é também normal sentirmos ciúmes
d@s parceir@s
anteriores d@ noss@ parceir@ actual
… mas a verdade é
que,
se não fosse ele/ela,
@ noss@ parceir@
não seria aquilo
que é hoje…e esse é um propósitos mais primordiais de uma
relação: a aprendizagem, o confronto com as nossas próprias
sombras e, claro, experienciarmos o Amor num dos estados mais belos e
profundos que existem:
no contexto de uma relação amorosa.
Isto
tudo para dizer que devemos
aprender a contemplar a
árvore plantada
pel@ nossa parceir@ e @ anterior parceir@ em toda a sua beleza e
poesia. E por certo será sempre mais bela do que um cadeado, com
dois nomes riscados, preso
numa ponte.
A
ideia da árvore é só uma sugestão entre muitas outras ideias e
hipóteses para
a demonstração de uma
união de uma forma mais interessante e benéfica para o próprio
planeta. A criatividade humana não tem limites … infelizmente a
estupidez humana também não e, ainda a propósito das árvores, e
ainda a propósito de “casalinhos”, não posso deixar de lançar
um sentido apelo: por favor, parem com a estúpida tradição de
riscar os nomes dos membros de um casal
nos troncos das árvores
… é que é uma tradição que consegue ser
ainda mais estúpida
do que a dos
cadeados … quem contempla verdadeiramente uma árvore gosta de o
fazer na plenitude da sua integridade e não com uns
gatafunhos
foleiros
que nos informam de que
o Quim ama a Milocas, em 17 do 04 de 2013. A sério Quim, a sério
Milocas, a humanidade consegue passar bem sem essa informação e a
árvore ainda melhor sem uns gatafunhos feiosos
em jeito de tatuagem
barata.
Está
feito o apelo
… Há
mil e uma formas
belas e profundas de manifestar o nosso Amor por alguém
… e todas elas são
infinitamente
mais
inteligentes, puras e criativas
do que um cadeado
numa ponte.
Afinal
de contas saber Amar é também isso:
saber surpreender,
saber ser criativ@ e encontrar várias
formas de nutrir uma
semente frágil
mas orgânica. E
muitas dessas formas podem ser bastante simples e simultaneamente
profundamente valiosas e carregadas de significado.
Surpreendam
e surpreendam-se, preferencialmente sem mais cadeados!
Pedro
Jorge Pereira
14
de Fevereiro de 2019
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