"A
felicidade não depende do que nos falta, mas do bom uso que fazemos
do que temos." Thomas
Handy
Vivemos
numa sociedade de consumo onde,
como a própria designação indica,
somos constantemente incentivados a consumir. Uma actividade que,
diga-se, não tem o propósito
-
numa
grande parte das situações -
de
satisfazer alguma necessidade concreta mas sim
unicamente a finalidade de
… consumir. Assim sendo coloca-se a questão: porque
é que a sensação de “vazio” existencial é tão comum numa
sociedade que consome de uma forma tão desenfreada?
Por
outras palavras, se o consumo é de facto a chave para a felicidade
porque é que,
por exemplo,
a utilização de anti-depressivos,
calmantes
e medicamentos análogos é
tão
elevada nas designadas sociedades industrializadas? A resposta, como
em tantas outras circunstâncias, reside na própria questão:
o
vazio existencial e o
sentimento
de depressão, frustração, etc. são
tão frequentes
na sociedade de consumo porque, evidentemente, o consumo está muito
longe de proporcionar, por si mesmo, uma felicidade verdadeira e
sustentada.
Todos
nós precisamos de usufruir de um determinado conjunto de bens e
serviços de forma a podermos assegurar, primeiro, a própria
existência e, depois, um considerável nível de conforto.
As
possibilidades de
aprofundarmos
o
processo
de auto-conhecimento e desenvolvimento espiritual podem tender a
diminuir se as nossas prioridades forem encontrar formas de
simplesmente sobreviver. Sem prejuízo de haver diversos exemplos de
indivíduos e movimentos que procuram na frugalidade -
e até no próprio ascetismo -
uma
forma de evolução espiritual. É uma opção perfeitamente válida
que, porventura, não funcionará de forma igual para todos.
Pessoalmente
tendo a acreditar que não é necessário quase como que renunciarmos
ao “mundo material” para que seja possível evoluir
espiritualmente, ou até de tornarmos nesse
o nosso principal foco existencial. O essencial da questão passará,
a meu ver, por encontrar um equilíbrio entre ambas as dimensões.
Aquilo
que acontece de forma bastante frequente na nossa sociedade é uma
excessiva preponderância da dimensão “material”, levando a um
estilo de vida que,
apesar de poder proporcionar uma aparente e momentânea felicidade é,
na realidade,
bastante ilusório.
A
satisfação que advém da
aquisição
de determinado produto,
–
vezes sem conta de algum produto não verdadeiramente necessário, –
só
dura alguns instantes…sendo,
de forma quase imediata,
substituída pelo “desejo” de aquisição de um novo produto.
Então o que acontece é darmos por nós num ciclo interminável
de desejo – consumo. Um ciclo explorado e estimulado até à
exaustão pela sociedade mercantil que nos rodeia através de mil e
uma estratégias e instrumentos de marketing.
Acabamos
por viver com esse propósito primordial de trabalhar para ganhar
dinheiro. Viver para trabalhar, trabalhar para ganhar dinheiro,
ganhar dinheiro para podermos adquirir mais e mais bens de consumo.
A
noção
do que é verdadeiramente importante e necessário perdeu-se
entretanto algures nesse processo “viciado” e “viciante”. É
talvez uma das dependências mais toleradas e até estimuladas na
nossa sociedade: a dependência do próprio consumo, ou melhor
dizer, do consumismo.
Um
dos principais problemas é que essa febre consumista (para além de
diversas consequências ao nível, por exemplo, do consumo exacerbado
de recursos provindos da Natureza e outras formas de impacto
ecológico: como a produção de resíduos diversos) acaba por nos
distrair daquilo que é essencial: a própria vida.
Ao
procurarmos a felicidade no acto do consumo, no consumo de objectos
(ou serviços) – objectos muitas vezes meramente simbólicos e
sinónimo de determinado estatuto, ou pseudo-estatuto, social –
acabamos por não cultivar uma verdadeira e profunda felicidade que
reside não necessariamente nos objectos mas sobretudo num sentimento
de harmonia e paz interior em larga medida pouco dependente das
circunstâncias externas.
No
fundo é aquilo que se pode designar de uma tranquilidade perante os
eventos e circunstâncias que sucedem na nossa vida, por muito
problemáticas ou até “dramáticas” que elas por vezes possam
ser. Ou seja, a nossa atitude perante as adversidades é que
determina em larga medida esse sentimento de “paz” e felicidade
mais profunda.
E,
por outro lado, o “consumo” pode ser efectivamente um meio para
nos sentirmos bem, ou ajudar a isso, mas nunca o fim único da nossa
existência.
No
essencial pode-se talvez afirmar que a felicidade reside muito mais
em cultivar a gratidão por todas as pequenas e grandes dádivas do
dia-a-dia, em valorizar as
relações
afectivas, do que na aquisição de determinados objectos. Mas será
que são essas as nossas prioridades e objectivos de vida?
Outro
dos aspectos sobre o qual
gostaria
de reflectir prende-se com o ciclo de aquisição – acumulação. A
acumulação é uma realidade que observo de forma muito frequente.
A
meu ver é também um fenómeno bastante nefasto e que obsta à nossa
própria evolução. Na verdade ela também é alimentada por
pensamentos ilusórios. A “acumulação” radica, entre outros
aspectos, na incapacidade (que pode e deve ser “trabalhada”) de
nos libertarmos das coisas que já não precisamos e de que
provavelmente já não viremos a precisar.
A
questão é que,
para além do aspecto prático e físico do espaço que essas
“tralhas” ocupam, há também uma outra dimensão
- mais “filosófica” ou “espiritual”, se quisermos -
de um espaço da nossa vida que continua ocupado com objectos,
emoções, esquemas que são completamente redundantes
e a sua não “libertação”,
obsta a que “libertemos” espaço para coisas novas poderem
“surgir” na nossa vida. A energia da estagnação é,
evidentemente, contrária à do movimento e a
acumulação de “tralhas”
gera mais estagnação.
Por
outro lado existe
o medo
de que algo possa vir ainda a ser necessário … isto porque não
confiamos que, nessa altura, a nossa vida reunirá as condições
necessárias para providenciar daquilo
que for realmente essencial.
É
evidente que, pontualmente, há determinadas coisas que podem
efectivamente vir a ser úteis em determinado momento da nossa vida.
Mas a questão é a diferença entre pontualmente e sistematicamente.
A diferença é entre pontualmente guardarmos determinadas coisas
porque há efectivamente uma probabilidade considerável de virem
a ser necessárias e
entre sistematicamente guardarmos tudo ou quase tudo por partimos
sempre do princípio que tudo ou quase tudo vai ser ainda necessário.
Muitas vezes o resultado disso é a acumulação de dezenas,
centenas, milhares de objectos
que,
em boa verdade, nunca chegamos a usar. Numa grande parte das
situações acabamos até por esquecer que eles existem…perdidos
numa qualquer gaveta, armário, etc.
Quantas
vezes olhamos para um objecto e perguntamos-nos:
Há
quanto tempo não uso isto? E se não usamos há,
por exemplo,
mais de um ano então não será porque
efectivamente não precisamos verdadeiramente dele?
É
pois fundamental cultivarmos a capacidade de regularmente nos irmos
libertando das coisas. Desde coisas (objectos) propriamente ditas até
“coisas” num sentido mais abstracto: situações, esquemas,
vícios, etc. Um dos aspectos mais interessantes é
o
de cultivarmos uma atitude de “compaixão” para com aqueles que
nos rodeiam…provavelmente
há imensas coisas que para nós já não têm qualquer utilidade mas
para outros podem ser ainda bastante úteis. Em muitas situações,
felizmente, já temos aquilo que é verdadeiramente essencial e então
podemos (e, diria, devemos) doar
parte
do que temos com
outras pessoas mais “necessitadas”.
O
sentimento que daí advém é tão ou mais gratificante do que o
próprio sentimento de adquirir ou receber determinado bem.
Termino
salientando que uma das formas mais inteligentes de não acumular é,
antes de adquirir
algo,
questionarmos-nos até que ponto necessitamos verdadeiramente desse
objecto. Ou seja, descobrirmos a simplicidade da própria vida é
também
um
hábito extremamente saudável e que, tendencialmente, nos permite
caminhar rumo a uma maior sensação
de verdadeira felicidade.
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